segunda-feira, 14 de maio de 2012

Jorge Luis Borges, "Não és os outros"


Não haverá de salvar-te o que deixaram
Escrito aqueles que teu medo implora;
Não é os outros e te vês agora
Centro do labirinto que tramaram
Os teus passos. Não te salva a agonia
De Jesus ou de Sócrates nem o forte
Siddhartha de ouro que aceitou a morte
Em um jardim, ao declinar o dia.
É pó também esta palavra escrita
Por tua mão ou o verbo pronunciado
Por tua boca. Não há lástima no fado
E a noite de Deus é infinita.
Tua matéria é o tempo, o incessante
Tempo. Tu és todo solitário instante.

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