quarta-feira, 16 de maio de 2012

Paulo Henriques Britto, "Esse rosto que me olha"


Esse rosto que me olha de esguelha
(talvez para não ser reconhecido)
não é o mesmo que ontem vi no espelho,

o rosto familiar de um velho amigo
que desde sempre eu via à minha frente
e que no entanto agora anda sumido.

Não. Este novo é um rosto diferente,
de quem está ali a contragosto,
só por honra da firma, e se ressente

da obrigação de refletir um rosto
que
— fora um ou outro aspecto físico
que nada significa
— é o seu oposto.

(Um dos dois rostos é um impostor, no mínimo.
Um dos dois vai ouvir: Para com isso,
porra. É com você mesmo, seu cínico.)





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