sexta-feira, 25 de maio de 2012

José Régio, "Epitáfio para um poeta"


As asas não lhe cabem no caixão!
A farpela* de luto não condiz
Com seu ar grave, mas, enfim, feliz;
A gravata e o calçado também não.
Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!
Descalcem-lhe os sapatos de verniz!
Não vêem que ele, nu, faz mais figura,
Como uma pedra ou uma estrela?
Pois atirem-no assim à terra dura,
Ser-lhe-á conforto:
Deixem-no respirar ao menos morto!

* Farpela -  roupa.


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