segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Lêdo Ivo, "O ofício de viver"


Vou sempre, além de mim mesmo
em teu dorso,  ó verso.
O que não dou nasce em mim
e, máscara mais verdadeira
do que o rosto, toma conta
de meus símbolos terrestres.
Imaginação ! teu véu
envolve humildes objetos
que na sombra resplandecem.
Vestíbulo do informulável,
poesia, és como a carne,
atrás de ti é que existes.
E as palavras são moedas.
Com elas, tudo compramos,
a árvore que nasce no espaço
e o mar que não escutamos,
formas tangíveis de um corpo
e a terra em que não pisamos.

Se inventar é o meu destino,
invento e invento-me. Canto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário