domingo, 30 de dezembro de 2012

Leopoldo Brígido, "Dona Inês de Castro"


Cai a tarde. Na quieta soledade
Do prado em flor, a sombra lentamente
Se espalha, e Dona Inês de Castro sente
Na alma subir-lhe uma onda de saudade.

Vai sozinha a cismar. Do infante ausente,
Doce lembrança o coração lhe invade.
E as brancas mãos gentis, com suavidade,
Colhem cecéns* e rosas, juntamente.

Senta-se à beira do Mondego. Mira
O rosto na água, e pétalas atira
À água, que manso e manso se renova.

E vê-se, imagem na água mergulhada,
De cecéns e de rosas coroada,
Já rainha no fundo da cova.

* cecéns - o mesmo que açucenas.


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