sexta-feira, 3 de maio de 2013

Jorge Luis Borges, "Final de ano"


Nem o pormenor simbólico
de substituir um três por um dois
nem essa metáfora baldia
que convoca um lapso que morre e outro que surge
nem o cumprimento de um processo astronômico
aturdem e solapam
o altiplano desta noite
e nos obrigam a esperar
as doze irreparáveis badaladas.
A causa verdadeira
é a suspeita geral e embaçada
do enigma do Tempo;
é o assombro ante o milagre
de que a despeito de infinitos acasos,
de que a despeito de que somos
as gotas do rio de Heráclito,
perdure algo em nós:
imóvel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário