domingo, 22 de setembro de 2013

Cecília Meireles, "Comunicação"


Pequena lagartixa branca,
ó noiva brusca dos ladrilhos!
sobe à minha mesa, descansa,
debruça-te em meus calmos livros.

Ouve comigo a voz dos poetas
que agora não dizem mais nada,
- e diziam coisas tão belas! -
ó ídolo de cinza e prata!

Ó breve deusa do silêncio
que na face da noite corres
como a dor pelo pensamento,
- e sozinha miras e foges.

Pequena lagartixa - vinda
para que? - pousa em mim teus olhos.
Quero contemplar tua vida,
a repetição dos teus mortos.

Como os poetas que já cantaram,
e que já ninguém mais escuta,
eu sou também a sombra vaga
de alguma interminável música.

Para em meu coração deserto!
Deixa que te ame, ó alheia, ó esquiva...
Sobre a torrente do universo,
nas pontes frágeis da poesia.

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