sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Jorge Luis Borges, "Os enigmas"


Eu que sou o que agora está cantando
serei em breve o misterioso, o morto,
o morador de um mágico e deserto
orbe sem antes nem depois nem quando.
Assim afirma a mística. Não julgo
que mereça o Inferno nem a Glória,
porém nada prevejo. Nossa história
se altera como as formas de Proteu*.
Que errante labirinto, que brancura
cega pelo fulgor será minha sorte,
quando me entregue o fim desta aventura
essa curiosa experiência, a morte?
Quero beber seu cristalino Olvido,
ser para sempre; mas nunca ter sido.

* Proteu - Fig. Indivíduo que facilmente muda de opinião.

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