quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Alphonsus de Guimaraens Filho, "Louvação"


                         I

Nem sei se blasfemei. Se blasfemei,
Deus passe um pano sobre tanto sujo.
Sinto-me exausto numa torre cujo
vértice tento atingir e não verei.

Nem sei se blasfemei. Apenas sei
que muita vez suponho que em vão rujo,
que me rebelo eu, um caramujo
que nem minha própria casa salvarei.

Nem sei , nem sei se blasfemei. Apenas,
olhando agora para trás, concluo
que eu devia cantar ou ter cantado

não os meus males só, não minhas penas,
mas a Beleza em que já me diluo,
em que me integro, Deus seja louvado.


                     I I

Louvado seja Deus! Seja louvado
pelos que não merecem nem louvá-Lo.
E, de louvado, passe a ser halo
de louvação por sobre o exasperado.

E de louvado passe a ser, e a dá-lo,
um resplendor por sobre o apagado
e cego humano amor alucinado
capaz (tão triste amor!) de desprezá-Lo.

De desprezá-Lo? De esquecê-Lo, digo.
De negá-Lo também. E, sem suporte
qualquer, julga-se pleno e desbordante

de certeza e de paz, seu próprio abrigo.
Louvado seja Deus, tempo adiante.
Louvado em nossa vida. E em nossa morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário