sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Lúcio Cardoso














"O evadido"

Venho da sombra. Venho do mistério
onde transitam seres infelizes como eu.
A minha angústia nesta hora
arde como uma estrela enlouquecida
em seus amortalhados no silêncio.

Venho do nada. Na agonia das horas
sou o vulto que se encolhe sob as árvores
imóveis nos jardins batidos pela chuva.
Sou talvez na rua escura e fria,
um grito que se distancia,
até o mar gelado - e o tempo incerto.

Visão de nevoeiros cruéis se desfazendo,
o sangue de uma luz correndo vivo,
a saudade da vaga que ainda não chegou,
que vem de longe, que vem rolando
para se despedaçar na face bruta dos rochedos...
Poesia que fulgura nesta noite como um sol
rompendo a bruma da manhã que se levanta.

Sou luz dos astros que nascem dos abismos,
sou espírito, melancolia dos amantes,
venho da sombra - sinto que sou tudo
e que não sou por fim senão eu mesmo.


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