segunda-feira, 11 de junho de 2018

Antonio Carlos Secchin, "Soneto da Dissipação"


Revejo a  luz gelada de manhãs perdidas
e os sonhos  que eu  mandei para o endereço errado.
Tanto azul me nauseia e nada se dissipa
em meio ao mangue seco onde estanquei  meu barco.
Muitas  sombras debatem-se à beira do quarto.
Fantasmas nos  lençóis da noite estreita e aflita
esgueiram seus  anzóis no meu silêncio farto 
de saber que eles são a única visita.
Imóveis no sofá, me contemplam ferozes
e cravam com desdém  as garras da rapina.
Espanto  o pó e a dor  que descem  dessas vozes
rolando sem parar  pela memória acima.
O espelho só  me ensina  a ruína do desejo.
 Sei que é meu esse olhar em que eu não mais me vejo.

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