quarta-feira, 20 de junho de 2018

Jorge Luis Borges, "Soneto do vinho"


Em que reino, em que século, sob que silenciosa
Conjugação dos astros, em que secreto dia
Que o mármor não salvou, surgiu a valiosa
E singular ideia de inventar a alegria.
Com outonos dourados o criaram. O vinho
Refluiu rubro ao longo de muitas gerações;
Como o rio do tempo em seu árduo caminho
Prodigou-nos a música, seu fogo e seus leões.
Na noite jubilosa ou na jornada adversa,
Ele exalta a alegria ou nos mitiga o espanto,
E o ditirambo novo que este dia lhe canto
Lhe foi cantado outrora pelo árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver a minha história
Como se esta já fosse a cinza da memória.

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