segunda-feira, 18 de junho de 2018

Manuel Maria Barbosa du Bocage, "Contrição"


Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava;
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu pensava
Em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana
A existência falaz me não doirava!
Mas eis sucumbe a natureza escrava
Ao mal que a vida em sua origem dana.

Prazeres sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
no abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, ó Deus! Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.

2 comentários:

  1. Um contexto fortíssimo no final da vida do autor. Que me faz refletir desde quando li pela primeira vez na minha juventude.

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    1. Há quem sustente que a altoria foi da Curia, numa tentativa de fazer parecer que ele se havia arrependido....

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