terça-feira, 5 de junho de 2018

Eucanaã Ferraz, "Les romanciers étrangers"


Ela implorou por um beijo.
Sabia que um só beijo
e tudo estaria bem,
que outro beijo viria,

mais um, outro e tudo mais.
Sim, ela implorou chorando
que lhe desse um beijo e só.
Mas ele disse que não.

Firme e frio, disse que não.
Ele sabia, sem dúvida,
que se cedesse ao pedido
tudo estaria bem e

que outro beijo viria
e ele, decididamente,
não queria. Foi por isso
que ficou daquele modo,

firme, frio. Ela implorava,
olhos inchados, vermelhos,
estava dessa maneira
quando saíram à rua

e ele fingia que nada,
nada havia acontecido.
Mas como ele conseguia
ser assim, intransponível?

Diante dela, parecia
que se convertera em pedra,
pedra inteiramente não,
muro inteiramente muro.

Que fazemos quando alguém
que amamos se faz assim
diante de nosso desejo,
frente a nosso desespero?

Hoje os olhos estão secos.
Ela lembra. E ela entende
que tudo foi bem pior:
porque a pedra não era ele,

porque a pedra era ela mesma,
apesar de toda lágrima.
Sim, ela era a pedra dele,
em que ele a transformara.

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