domingo, 2 de agosto de 2009
Elizabeth Bishop em duas traduções: "Uma Arte" ou "Uma Certa Arte".
Uma Arte - Tradução de Paulo Henriques Britto
"Uma Certa Arte" – Tradução de Nelson Ascher
A arte de perder não é nenhum mistério;
A arte da perda é fácil de estudar:
tantas coisas contêm em si o acidente
a perda, a tantas coisas, é latente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
que perdê-las nem chega a ser azar.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
Perde algo a cada dia. Deixa estar:
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
percam-se a chave, o tempo inutilmente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
A arte da perda é fácil de abarcar.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Perde-se mais e melhor. Nome ou lugar,
lugares, nomes, a escala subseqüente
destino que talvez tinhas em mente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
para a viagem. Nem isto é mesmo azar.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Perdi o relógio de mamãe. E um lar
lembrar a perda de três casas excelentes.
dos três que tive, o (quase) mais recente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
A arte da perda é fácil de apurar.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Duas cidades lindas. Mais: um par
que era meu, dois rios, e mais um continente.
de rios, uns reinos meus, um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Perdi-os, mas não foi um grande azar.
Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
Mesmo perder-te (a voz jocosa, um ar
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que eu amo), isso tampouco me desmente.
que a arte de perder não chega a ser mistério
A arte da perda é fácil, apesar
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
de parecer (Anota!) um grande azar.
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