sábado, 15 de janeiro de 2011

Mário Pederneiras, "Crepúsculo"

Eu sempre fui amigo dos estios,
Dos longos dias claros e sadios,
Da Cigarra, do Sol, que a vida encerra,
Que alegra a luz e que fecunda a Terra.

Mas estou hoje num estado d’alma,
Tão de indolência e calma
E tão avesso às emoções bizarras
Que não quero saber de Sol nem de cigarras..

Nada de força, de vigor, de músculos,
De desejos agudos,
Nem dos desatinos,
A que, às vezes, me atiro,
De alguma estranha fantasia nova;
Hoje alegrias e vigores domo
E prefiro
À meia tinta morna dos crepúsculos,
Num macio carinho de veludos,
A plangência católica dos sinos
Num fim de tarde, quando a luz repousa,
Ou então qualquer cousa
Como
Na alma de um violoncelo a surdina da trova.

Olho este fim de tarde e esta sombra que desce
E em tudo alonga e tece
A trama tênue do seu véu de luto…
A alma sentindo evocativa e boa,
Emocionado, escuto
O saudoso rumor do dia que se extingue…
E o dia azul que foi, apenas se distingue
Por um resto de luz que nas alturas sobra,
Por um sino que dobra
Ou uma asa que voa ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário