sexta-feira, 18 de março de 2011

Olavo Bilac, "Dualismo" e Augusto dos Anjos, "Vítima do Dualismo".

Publico hoje dois sonetos muito bons e com o mesmo tema, mas de autores que podem ser considerados opostos em tudo:

OLAVO BILAC




Ele foi um grande parnasiano brasileiro, que devido a sua qualidade e enorme sucesso foi o alvo preferido de muitos modernistas, que precisavam destruir as formas poéticas que lhes antecediam.

Ainda hoje, quem se interesse por literatura brasileira a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, após ler os ataques tão fortes e ferinos que o poeta e o seu estilo receberam, corre o risco do preconceito contra o autor e o parnasianismo.

Porém, a poesia de Olavo Bilac sobreviveu a maior parte da dos seus críticos.


AUGUSTO DOS ANJOS



Augusto dos Anjos foi um autor cuja poesia impar parece estranha no primeiro momento. Sua obra tem uma grande unidade devido a sua visão singular da vida e a sua "linguagem poética própria".

Seu único livro publicado - "Eu" - é de 1912. Não fez sucesso de crítica. Muitos consideraram seus versos "de mau gosto", e os modernistas (embasbacados com os boulevards de Paris) não conseguiram enxergar a novidade que aquele paraibano trazia à poesia brasileira.

Ferreira Gullar, no estudo crítico que antecede a uma edição da obra completa de Augusto, assim escreve:

"Não conheço nenhum outro poeta brasileiro, anterior a Augusto dos Anjos, que, a fim de exprimir a experiência concreta da vida, tenha de tal modo, abandonando os recursos literários usuais, dado as costas aos canais prontos da metáfora prestigiosa. Essa necessidade de não se desprender do vivido, de não traí-lo, de não disfarçá-lo com delicadezas, de erguê-lo de sua vulgaridade à condição de poesia por força da palavra é que determina a originalidade desse poeta e o salto que sua obra significa naquele momento da nossa poesia”.

Atualmente, parte da crítica já tira Augusto da vala dos poetas "bizarros" e o coloca como um pré-modernista.


Dualismo, de Olavo Bilac

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vértice vesano*,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes;

E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.

* Vesano - insensato, delirante.

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Vítima do Dualismo, de Augusto dos Anjos

Ser miserável dentre os miseráveis
- Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!

Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!

Psiquê biforme, O Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,

Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos*!

* famulentos - esfomeados, famintos.


Acrescentaria também que, se a poesia de Olavo Bilac é o equilíbrio do Vaso Grego a exprimir toda beleza etérea e contida do classicismo, a de Augusto dos Anjos tem a objetividade do Vaso de Barro, com a beleza do musgo reles e a força da realidade da vida.

Seus bigodes também eram opostos:

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