Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o
que na realidade acabo sempre por fazer seja embrulhar
ainda mais os fios. A própria caligrafia é sufocada.
Há, todavia, um momento em que as palavras são
cuspidas, saem em borbotões, e o sangue e a saliva
impregnam o sentido. É impossível separá-los.
Por trás talvez não haja mesmo nada. São palavras que
não estão ginasticadas, que secam e encarquilham como
folhas por que a seiva já não passe.
Oprimem toda a página, através da qual deixa de ser
possível respirar. Tapam-lhe os poros. A própria chuva
que neles caia não se escoa.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Luís Miguel Nava, " Os nós da escrita"
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