quarta-feira, 23 de maio de 2012

Cecília Meireles, "PISTÓIA - Cemitério Militar Brasileiro".



Eles vieram felizes, como
para grande jogos atléticos:
com um largo sorriso no rosto,
com forte esperança no peito,
- porque eram jovens e eram belos.

Marte, porém, soprava fogo
por estes campos e estes ares.
E agora estão na calma terra,
sob estas cruzes e estas flores,
cercados por montanhas suaves.

São como um grupo de meninos
num dormitório sossegado,
com lençóis de nuvens imensas,
e um longo sono sem suspiros,
de profundíssimo cansaço.

Suas armas foram partidas
ao mesmo tempo que seu corpo.
E, se acaso sua alma existe,
com melancolia recorda
o entusiasmo de cada morto.

Este cemitério tão puro
é um dormitório de meninos:
e as mães de muito longe chamam,
entre as mil cortinas do tempo,
cheias de lágrimas, seus filhos.

Chamam por seus nomes, escritos
nas placas destas cruzes brancas.
Mas, com seus ouvidos quebrados,
com seus lábios gastos de morte,
que hão de responder estas crianças?

E as mães esperam que ainda acordem,
como foram, fortes e belos,
depois deste rude exercício,
desta metralha e deste sangue,
destes falsos jogos atléticos.

Entretanto, céu, terra, flores,
é tudo horizontal silêncio.
O que foi chaga, é seiva e aroma,
- do que foi sonho, não se sabe -
e a dor anda longe, no vento...

2 comentários:

  1. Um poema bonito que fala de jovens pracinhas brasileiros que vieram lutar em solo italiano e aqui morreram.......

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  2. Também gosto muito do poema. Acho que ele retrata os filmes que vemos ainda hoje dos pracinhas indo para a guerra. Mas também estranho que os seus corpos tenham permanecido na Itália até 1962, quando foram para o Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo.

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