quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Adriano Espínola, "As dunas"

                 Tu, hora, revoas nas dunas.                                           
                              Paul Celan

Avançam,
sorrateiras,
tangidas pela mão simétrica
do vento. 

A luz da manhã sobre elas
escorre
como ondas na maré
cheia.

Verdevivos,
os arbustos se agarram
em desespero
à alva memória da areia.
 
Ali,
as dunas espreitam a cidade
— o bote de areia armado —
à espera do tempo. 

Tácitas,
levam nas costas,
esvoaçante,
o presente;
nos peitos, o passado
semovente.
 
 

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