quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Jorge Luis Borges
"A cifra"
A amizade silenciosa da lua
(citando mal Virgílio) te acompanha
desde aquela dispersa hoje no tempo
noite ou entardecer em que teus vagos
olhos a decifraram para sempre
em um jardim ou um pátio que são pó.
Para sempre? Eu sei que alguém, um dia,
irá dizer-te verdadeiramente:
"Não voltarás a ver a clara lua.
Já esgotaste a inalterável
soma de vezes que te dá o destino.
Inútil abrir todas as janelas
do mundo. É tarde. Não a encontrarás".
Vivemos descobrindo e esquecendo
esse suave hábito da noite.
Olha-a bem. Quem sabe seja a última.
Tradução de Josely Vianna Baptista,
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