quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Lúcio Cardoso, "Rosa vermelha"


No teu esplêndido jazigo de cristal, agonizas, ó rosa
adormecida na penumbra azul da velha sala.
Como das conchas cresce a surda música das vagas,
do teu seio se exala o esplendor vermelho das tardes
e o perfume que tanto incentivou a fome alucinada das abelhas.
Mas, agora, na tua rósea carnação só recolhes a sombra
roxa, azul, lilás, das violetas que o teu espectro rodeiam.
Em breve descerás ao silêncio - e astro tardio,
cintilarás de encontro ao veludo escuro da cortina,
como a mulher que aos olhos do tímido amante
ostenta na cumplicidade da penumbra
a majestade triste da sua carne extinta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário