quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Eucanaã Ferraz, "Cacto"


Ok. Jamais tocar teu rosto.
Aceitar que ele não seja uma
(eu direi, apesar do doce
que se derramará então

e da ridícula, antiquada, sedosa aura
que cerca tal imagem, que cega
em tal imagem, que dela se evola;
sim, eu direi agora)

aceitar que ele não seja uma: flor
(mesmo que trabalhosa,
flor de obstáculo, entre farpas,
arames, flor de cálculo).

Meus dedos, custosamente
quietos miram teu rosto
(o mais perfeito - nem belo,
nem feio - artefato): rastros,

javalis, búfalos atingidos mortalmente
em meio aos livros, às pedras,
à água que talvez gotejasse,
à musica também ela pingando

de um piano arruinado mas,
repentinamente negro, sólido
em meio aos papéis do cesto,
à brasa de uma e outra frase.

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