quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Lúcio Cardoso

















"Já a noite avança ..."

Já a noite avança e a tua presença
não ilumina mais o tempo,
sinto o escuro crescer sobre o que
foram os teus passos
e a minha solidão, maior, abrir-se
como uma flor enorme.
Sinto que sou pequeno para o vazio
que está chegando,
e se agora ouço a música do mar,
é de ti que me lembro e de tudo o
que a tua presença me traz.
Bem sei que as palavras não adiantam,
mas somos pobres demais para amor tão grande;
dia virá em que esta ausência serpa definitiva,
e quem sabe, morrerá em mim o teu nome,
como morre neste instante a esperança
de sobreviver.
E se quiseres, é que não somos deuses,
outras épocas existem e tormentos
maiores.
Só o que dilacera é grande.
Seria inútil pedir que me dissesses
sofrer mais -
em cada parcela deste ar que
respiro,
sinto a tua presença como um
castigo,
e nem eu nem o mar e nem a música
conseguirá desfazer o que entre nós se
fez tão grande -
e estranho como o sonho de um exilado.

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