sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Al Berto, "Diários"
















Lx 25 de abril

Desde 6ª feira que nada sei. Vivo cada segundo à espera que o telefone toque. E não tocou. Que terá acontecido? Invento coisas para fazer, para me distrair, para passar o tempo e não pensar. Sinto um medo que me corrói o coração.

Alexandre adormecido no fogo deste poema

Enquanto dormes constrói-me um rosto novo, no fundo do teu sonho. Toca-o e acorda-me.
Caminha comigo, peço-te, na inquietação daquele rosto, e nesta alegria suspensa na solidão.

Ha tantos anos que te esperava para fugirmos. E não sabia que a fuga era possível pelas estradas de giestas, em direção à madrugada do mar.
Dorme e deixa que o meu coração escute o teu. Quero arder contigo, nesta eternidade feita de kms e segundos.

Para trás ficou a cidade. E tu sabes que a cidade só existe no apanhar de um táxi. E perdemo-nos até amanhã, sem sequer podermos dizer adeus, porque não se pode dizer adeus à paixão.

Amanhã, ou enquanto dormes, agora mesmo, vou pensar em ti, intensamente - até que as horas me doam e o movimento do tempo fique suspenso, até que tudo o que me rodeia tome a forma do teu corpo.

E em mim circulas, adormecido no fogo do meu sangue.


                                                               *


A ausência coalha sobre a pele. Por isso te escrevo, com esta luz encostada à boca. e espalho a cinza das palavras no silêncio da noite.

Perder-te me levaria ao fogo duma bala. Viagem de sangue pela terra sem mar deste quarto que me conhece e protege. A paixão foi construída com a lentidão das obras primas. E nela não há equívocos nem sombras. O teu rosto é intenso, brilha assim que lhe toco - borboleta lunar, sinal de vida, estremecer do mundo na tristeza perfeita das mãos.

Assim te raptei numa noite - com ansiedade delícia. E assim te amei (e amo) dentro e fora do poema.

Profecia
despedaçado

obscuro
densidade dos seres
Bruma

as coisas talvez existam porque as palavras o dizem.
morremos de amor quando já nem o amor existe.(?)

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