segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Fernando Pessoa














"Que triste, à noite, no passar do vento..."

Que triste, à noite, no passar do vento,
O transvasar da imensa solidão
Para dentro do nosso coração,
Por sobre todo o nosso pensamento.

No sossego sem paz se ergue o lamento
Como de universal desolação,
E o mistério, e o abismo e a morte são
Sentinelas do nosso isolamento.

"Estamos sós com a treva e a voz do nada.
Tudo quanto perdemos mais perdemos.
De nós aos que se foram não há estrada.

O vácuo incarna em nós, na vida; e os céus
São uma dúvida certa que vivemos.
Tudo é abismo e noite. Morreu Deus.

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