sábado, 20 de agosto de 2016

Lúcio Cardoso, "Não passa, Martim, o tempo"


                                                  A Martim Gonçalves

Não passa, Martim, o tempo
como o resto que passa,
alguma coisa passa,
é certo.
Mas fremido no cálice da mão,
que acento inventa
o que resiste ao intento,
o que sendo perfume
ainda é corrupção?
A música demora. Ciúme,
a coisa tarda em seu tempo,
enquanto raleia a hora.
Não passa, Martim, o certo;
claro, existir demora -
mas no acento do esvaído,
aproxima-se o perto:
se somos escuro lume,
o tempo é hora:
ardemos, mas no incerto.

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