sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Lúcio Cardoso, "O passeante"


Senhor, eu sondo em vão o que é a minha loucura,
esse mundo subscrevo onde só a noite reina
e é inutilmente que lanço a minha sonda.
mares onde jamais a aurora brilha,
fragmentos de sonhos, pressentimentos, visões
de uma infância que a vida não matou...

Será isto apenas, este tumulto, este desejo
de tantas coisas impossíveis, esta ânsia
ante prazeres que odeio? Ó mistério,
ó intangível mistério desta alma enorme,
aberta à natureza como um abismo!

Quem sou eu, que memória é esta,
que fulgor é este que me segue,
rubra ameaça de um inferno que me chama?
Ó astros impossíveis, ó chama eterna,
que amor aplacará esta loucura,
este riso que os homens não escutam,
esta cega volúpia que é o frêmito
da morte?

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