segunda-feira, 26 de março de 2012

Augusto dos Anjos, "Vandalismo"


Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas* e longínquas datas,
Onde um nume* de amor, em serenatas,
canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida* e nas colunatas
Vertem lustrais* irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Com os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...

E erguendo os gládios e brandido as hastas*,
No desespero dos iconoclastas*
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos.


* Prisca - adj. Que pertence a tempos idos; antiga, velha.
* Nume - s.m. Divindade, poder celeste. Gênio, espírito sobrenatural.
* Fúlgido - adj. Brilhante, cintilante.
* Lustral - adj. Que purifica. Água sagrada; água do batismo.
* Hasta - s.f. Lanças, piques.
* Iconoclasta - adj. e s.m. e f .Membro de uma seita herética que no séc. VIII, proibia e destruía as imagens sagradas. Fam. Diz-se de pessoa que demonstra desrespeito pelas tradições.
Pessoa que ataca crenças firmemente enraizadas.

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