terça-feira, 12 de junho de 2012

Pablo Neruda, "Ode à gratidão".

Grato pela palavra
que agradece.
Grato a grato
pelo
quanto essa palavra
derrete neve ou ferro.

O mundo parecia ameaçador
até que suave
como uma pluma
clara,
ou doce como pétala de açúcar,
de lábio em lábio
passa,
grato,
grandes a boca plena
ou sussurrantes,
apenas murmuradas,
e o ser voltou a ser homem
e não janela,
alguma claridade
entrou no bosque:
foi possível cantar embaixo das folhas.

Grato, és pílula
contra
os óxidos cortantes do desprezo,
a luz contra o altar da dureza.

Talvez
também tapete
entre os mais distantes homens
foste.
Os passageiros que disseminaram
na natureza
e então
na selva
dos desconhecidos,
merci, enquanto o trem frenético
muda de pátria,
borra as fronteiras,
spasivo
junto aos pontiagudos
vulcões, frio e fogo,
thanks, sim, gracias, e então
a terra se transforma em uma mesa:
uma palavra a limpou,
brilham os pratos e copos,
ressoam os talheres
e parecem toalhas as planuras.

Grato, gracias,
que viajes e que voltes,
que subas
ou que desças.
Está entendido, não
preenches tudo,
palavra grato,
mas
onde aparece
tua pequena pétala
escondem-se os punhais do orgulho
e aparece um centavo de sorriso.


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