domingo, 3 de novembro de 2013

António Patrício, "Nós"


Tu vives a chorar, eu vivo a rir
E assim vamos morrendo de mãos dadas.
Tu falas p'ra rezar, eu p'ra mentir
E as nossas bocas beijam-se encantadas...

Rezas por nós, por este amor a abrir
Em quimeras que nascem condenadas...
Minto por nós, para poder sorrir;
Erguer alegre as tuas mãos nevadas...

Tu crês, eu não creio e minto;
E as tuas rezas tem tanta piedade
Como as palavras trêmulas que eu sinto.

Mentir é afinal rezar sem crença:
E de mãos dadas, pela tempestade,
O nosso amor é uma oração imensa!

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