quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Paulo Henriques Britto













 
"Noturno"

A noite é cuidadosa com seus cúmplices.
Enorme prostituta complacente,
acolhe toda insônia e compreende
todo o postiço, todo o falso dúplice.
Abraço o pássaro assustado e arisco
dessa hora de máscaras agudas.
Meu gesto limpo, que ninguém escuta,
se esgota sem alarde, sem perigo.
O escuro é bom. Dispo o desejo e os óculos,
cuspo as palavras claras: maravilha,
identidade, lucidez, vigília,
abrasador. Sou mudo, nu, ilógico.
A noite aceita esse meu ser noturno,
inverso, incubo, e goza. Eu durmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário