terça-feira, 5 de abril de 2016

Ana Cristina Cesar, "33ª Poética"


estou farto da materialidade embrulhada do signo 
da metalinguagem narcísica dos poetas 
do texto de espelho em punho revirando os óculos 
modernos

estou farta dessa falta enxuta 
dessa ausência de objetos rotundos e contundentes 
do conluio entre cifras e cifrantes 
da feminil hora quieta da palavra 
da lista (política raquítica sifilítica) de supersignos cabais: “duro 
ofício”, “espaço em branco”, “vocábulo delirante”, “traço infinito".    

quero antes 
a página atravancada de abajures 
o zoológico inteiro caindo pelas tabelas 
a sedução os maxilares 
o plágio atroz 
ratas devorando ninhadas úmidas 
multidões mostrando as dentinas 
multidões desejantes 
diluvianas 
bandos ilícitos fartos excessivos pesados e bastardos 
a pecar e por cima

os cortinados do pudor 
vedando tudo 
com goma
de mascar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário