sábado, 23 de abril de 2016

Miguel Torga, "'A Largada', 1º Poema da História Trágico-Marítima"


Foram então as ânsias e os pinhais
Transformados em frágeis caravelas
Que partiam guiadas por sinais
Duma agulha inquieta como elas...

Foram então abraços repetidos
À Pátria-Mãe-Viúva que ficava
Na areia fria aos gritos e aos gemidos
Pela morte dos filhos que beijava.

Foram então as velas enfumadas
Por um sopro viril de reacção
Às palavras cansadas
Que se ouviram no cais dessa ilusão.

Foram então as horas no convés
Do grande sonho que mandava ser
cada homem tão firme nos seus pés
Que a nau tremesse sem ninguém tremer.

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