quinta-feira, 21 de julho de 2016

David Mourão-Ferreira, "Ternura"


Desvio dos teus ombros o lençol 
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada... 

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio, 
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente 
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós! 


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