domingo, 31 de julho de 2016

Pedro Paulo de Sena Madureira










"Nenhum poder me interessa..."

Nenhum poder me interessa.
Nenhuma imagem me sidera.

À severa pauta de palavras, sons
e imagens espelhadas em si mesmos,
prefiro o coração ridículo
sangrando em cima de um prato.

Mas então, por que ainda poeta
quando toda ambição cessa?
Se o coração aprendeu a chorar,
se não se envergonha de subir à flor da pele
e se arrepia quando o vento do outro sopra,
porque ainda o desejo de me contar?

Quem se incomoda com o que não sei
mas sinto?
Quem a meu lado se perturba
se estou ofegante no meio da noite
pois quem desejo não veio?
Quem se comove se digo
que no amor me ardo todo
e não me importa
o que seu abraço esconda
sob forma de coice?

Afinal, o que sei todos podem saber.
O que sinto, porém,
quem, se o sente,
não mente?

Nenhum poder me domina.
E isto que ora termina
não é propriamente um poema:
apenas um recado de quem,
sozinho na cama,
escreve porque ama.

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