quinta-feira, 28 de julho de 2016

Jorge Luís Borges, "Posse do ontem"


Sei que perdi tantas coisas que não poderia contá-las, e que essas perdas, agora, são o que é meu. Sei que perdi o amarelo e o preto e penso nessas impossíveis cores como não pensam os que vêem. Meu pai morreu e está sempre ao meu lado. Quando quero escandir versos de Swinburne, eu os faço, dizem-me, com sua voz. Só o que morreu é nosso, só é nosso o que perdemos. Ílion se foi, mas Ílion perdura no hexâmetro que o pranteia. Israel se foi quando era uma antiga nostalgia. Todo poema, com o tempo, é uma elegia. São nossas as mulheres que nos deixaram, não mais sujeitos à véspera, que é angústia, e aos alarmes e terrores da esperança. Não há outros paraísos senão os paraísos perdidos.

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