quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Gomes Leal, "Na rua"


Vejo-a sempre passar séria, constante,
- Ás vezes, inclinada na janela,-
Tranquila, fria, e pálido o semblante,
Como uma santa triste de capela.

Seu riso sem calor como o brilhante
No nosso lábio o próprio riso gela,
E ela nasceu para chorar diante
D'um Cristo numa estreita e escura cela.

Seu olhar virginal como as crianças
Jamais disse do amor as cousas mansas;
Jamais vergou da Força ao choque rude.

Abrasa-a um fogo divinal secreto! -
eu sinto, mal a avisto, ao seu aspecto,
O brio intenso e negro da Virtude.

Nenhum comentário:

Postar um comentário