sábado, 7 de janeiro de 2017
Lúcio Cardoso, "Poema"
Eu vi seu olhar deslizar sobre meus sentidos;
sua compreensão penetrar no mistério do meu ser,
e águas douradas cantar o salmo da minha devoção
quando teu cabelo rolou e a noite absorveu meu presente.
Eu vi sua alma agitar-se na retentiva em sangue
que é a face do meu corpo;
seu espírito debater-se nos meus punhos de ferro
e ajoelhar como o vencido que aguarda o inevitável.
Eu vi a cor dos fogos que relampejavam na sua noite;
a têmpera dos seus fusíveis na minha comoção de homem;
a avalanche que brotou do alto e lapidou meus pés.
Eu vi a música que transtornou seus astros
e fez do meu silêncio o Grande Mar;
o grito naufragado no desejo que não partiu...
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Eu vi tudo na tarde, mas ela já não existe.
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