segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Miguel Torga, "Ressurreição"


Porque a forma das coisas lhe fugia,
O poeta deitou-se e teve sono.
Mais nenhuma ilusão lhe apetecia,
Mais nenhum coração era seu dono.

Cada fruto maduro apodrecia;
Cada ninho morria de abandono;
Nada lutava e nada resistia,
Porque na cor de tudo havia outono.

Só a razão da vida via mais:
Terra, sementes, caules, animais,
Descansavam apenas um momento.

E o vencido poeta despertou
Vivo como a certeza de um rebento,
Na seiva do poema que sonhou.


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