domingo, 8 de dezembro de 2013

Miguel Torga













"Prece"

Senhor, deito-me na cama
Coberto de sofrimento;
E a todo cumprimento
Sou sete palmos de lama:
Sete palmos de excremento
Da terra-mãe que me chama.

Senhor, ergo-me do fim
Desta minha condição:
Onde era sim, digo não.
Onde era não, digo sim.
Mas não calo a voz do chão
Que grita dentro de mim.

Senhor, acaba comigo
Antes do dia marcado;
Um golpe bem acertado,
O tiro dum inimigo...
Qualquer pretexto tirado
Dos sarcasmos que te digo.

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