segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Francisco Antônio de Carvalho Júnior, "Profissão de fé"


Odeio as virgens pálidas, cloróticas,
Beleza de missal que o romantismo
Hidrófobo apregoa em peças góticas,
Escritas nuns acessos de histerismo.

Sofismas de mulher, ilusões óticas,
Raquíticos abortos de lirismo,
Sonhos de carne, compleições exóticas,
Desfazem-se perante o realismo.

Não servem-me esses vagos ideais
Da fina transparência dos cristais,
Almas de santa e corpo de alfenim*.

Prefiro a exuberância dos contornos,
As belezas da forma, seus adornos,
A saúde, a matéria, a vida enfim.


*alfenim: Massa de açúcar branca e dura, indivíduo delicado, efeminado.


Francisco Antônio de Carvalho Júnior (1855-1879) foi um  poeta, político e historiador baiano.
Alguns críticos o classificam como romântico tardio, outros como parnasiano, e há também quem considere um dos precursores do simbolismo no Brasil.

O soneto é uma avaliação debochada das musas dos poetas românticos.

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