sábado, 16 de agosto de 2014

Gabriela Mistral, "O pensador de Rodin"


Apoiando na mão rugosa o queijo fino,
O pensador reflete que é carne sem defesa:
Carne de cova, nua em face do destino,
Carne que odeia a morte e tremeu de beleza.

E tremeu de amor, toda a primavera ardente,
E hoje, no outono, afoga-se em verdade e tristeza.
O "haveremos de morrer" passa-lhe pela mente
Quando no bronze cai a noturna escureza.

E na angústia seus músculos se fendem sofredores,
Sua carne sulcada enche-se de terrores,
Fende-se, como a folha de outono, ao Senhor forte

Que o reclama nos bronzes. Não há árvore torcida
Pelo sol na planície, nem leão de anca ferida,
Crispados como este homem que medita na morte.

Tradução de Manuel Bandeira


Nenhum comentário:

Postar um comentário