quarta-feira, 19 de junho de 2013
Miguel Torga
"Pânico"
Nestas horas sem versos,
É o silêncio da morte que adivinho.
Um silêncio maninho*
Que entorpece os sentidos.
A vida
Anoitecida
Na lembrança,
Com todos os pecados cometidos
Já sem peso no prato da balança.
Assim são condenados os poetas
à visão do seu nada.
Quando as musas cruéis os emudecem.
Quando parecem
Múmias a apodrecer.
Quando em vão querem ter
A voz passada.
A voz insone que os fazia ser
Os arautos da eterna madrugada.
*Maninho - adj. estéril, improdutivo, infértil.
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