Ao José d 'Albuquerque Alvares Pikho
Ó sombras que durante a noite me falais,
Quando penso e não sei porque a
este mundo vim!
ó vós, que a minha Noite imensa povoais,
Qual o corpo que vos projecta junto
a mira?...
Donde dimana a luz estranha que vos
cria?
Quem sois vós, quem sois vós, ó
sombras bem amadas.
Donde um grande esplendor que ofusca
se irradia
Como dura horizonte a luz das madrugadas?
Ó Sombras que morreis na claridade
ansiosa
Do meu nevoento olhar distante, que
desmaia.
Como vem falecer uma onda harmoniosa
No meu ouvido, que é uma longínqua
praia...
Quem sois vós, quem sois vós, vagas
sombras perdidas
Que me livrais do Sol, do meu grande
inimigo?
Quem sois vós, quem sois vós, fantasmas
doutras vidas
Que me falais se eu ando, à noite,
só comigo?
Ó Sombras com quem vou, à noite, conversar,
Vós vindes até a mim para eu vos conhecer!
Sereis da minha dor um pálido luar.
Um reflexo do que arde em mim,
sem ela saber?...
Soa como os doidos, como os vermes
que só amam
A noite, que o meu vago Ideal tanto
parece!
Quantas vozes, meu Deus, que de dia
não chamam,
E quanto dia só à noite é que amanhece!
A noite 6 para mim uma estranha alvorada,
Nuvem, filha da Luz, que é um grande
mar sem fundo...
E, se deixa esta Terra em trevas
sepultada.
Que dia, que esplendor não é para
outro mundo!
Noite, tu és a luz do mundo que eu
habito...
Indefinido mundo, assim como um clarão.
Que, num amor, percorre esse azul
infinito
Que existe para além da nossa
Aspiração.
Onde tudo termina é que ele principia;
O espaço é um seu limite, a luz, o
som, a cor...
É vago como a alma etérea da harmonia
Que se exala do seio imaterial da
Dor...
Sombras, vós sois o Sol do mundo misterioso,
Onde minh'alma vive a sua
eternidade;
E embora seja, para os outros, nebuloso,
É esse Sol a verdadeira Claridade!
Sois o infinito Amor, o puro olhar
de Deus,
ó Sombras que durante a noite me apareceis!
Vós sois a Luz que existe além da
luz dos céus
E donde todas vós, estrelas, descendeis...
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