terça-feira, 26 de abril de 2016
Jorge Luis Borges
"nuvens (I I)"
Pelo ar andam plácidas montanhas
ou cordilheiras trágicas, sombreadas,
que escurecem o dia. São as chamadas
nuvens. As formas soem ser estranhas.
Shakespeare observou uma. Parecia
um dragão. Essa nuvem de uma tarde
em sua palavra resplandece e arde
e nós ainda a vemos, todavia.
Que são as nuvens? uma arquitetura
do acaso? Talvez sejam requisito
de Deus para a criação de Seu infinito
invento, fios de Sua trama obscura.
Talvez não seja a nuvem menos vã
que o homem que a contempla na manhã.
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