quinta-feira, 4 de janeiro de 2018
Fagundes Varela, "Enojo"
Vem despontando a aurora, a noite morre,
desperta a mata virgem seus cantores,
medroso o vento no arraial das flores,
mil beijos furta e suspirando corre.
Estende a névoa o manto e o val pecorre,
cruzam-se as borboletas de mil cores,
e as mansas rolas choram seus amores
nas verdes balsas onde o orvalho escorre.
E pouco a pouco se esvaece a bruma,
tudo se alegra à luz do céu risonho
e ao flóreo bafo que o sertão perfuma.
Porém minh'alma triste e sem um sonho
murmura olhando o prado, o rio, a espuma:
como isto é pobre, insípido, enfadonho!
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