quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
João Cabral de Melo Neto, "Rios sem discurso"
A Gabino Alejandro Carriedo
Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.
O curso de um rio, seu discurso-rio,
chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloqüência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Caramba bicho .... que mente extraordinária pra conceber algo assim ... com tanto sentido e sensibilidade ... massa .... poesia que arrepia ...
ResponderExcluirmuito inteligente.
ExcluirMuito inteligente o autor deste poema. Filósofo!Nos deixa refletir sobre nossas ações.
ResponderExcluirHá erros no poema, precisaria conferir com o original.
ResponderExcluirRios sem discurso
A Gabino Alejandro Carriedo
Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.
♣
O curso de um rio, seu discurso-rio,
chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloquência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate.
Tem razão, Anônimo,
ResponderExcluirForam dois "es" errados:
No nono verso da primeira estrofe faltou um "e" no início da frase.
Depois, no décimo verso da segunda, o correto é "frase e frase".
A dedicatória, eu geralmente, não coloco.
E, aliás, comparando-o mais atencioso com o original impresso para procurar os erros, notei um parentesco com o "Tecendo a manhã", que antes não havia notado.
Grato, já fiz as correções.
JR.
Muito legal a poesia!Tive que copiar ela para um trabalho! Sentimento... o que vem a minha cabeça, lindo o poema.
ResponderExcluirLindo!
ResponderExcluirE muito bom.
ResponderExcluir