sexta-feira, 17 de maio de 2013
Augusto dos Anjos, "O martírio do artista"
Arte ingrata! E conquanto em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
que em suas frontais células guarda!
Tarda-lhe a ideia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!
Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que à míngua
Da própria voz e na que ardente o lavra
Febre de em vão falar, com os dedos brutos
para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!
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