sexta-feira, 17 de julho de 2015
David Mourão Ferreira, "Teia"
Se da baba o insecto faz a teia,
se com choro porém não sei prender-te,
do céu, que era de cinza, direi verde,
e da terra e das lágrimas areia.
E da forma direi que foi ideia,
para que à noite o corpo não desperte.
Do perdido direi que não se perde
se ao menos nestes versos se encadeia.
Do cabelo, se louro, direi preto;
do amor que sofro direi soneto,
ante a luz tão corpórea que o invade ...
Nas redes da ficção ficará presa
e acordarás, mais tarde, na surpresa
de ser outra por toda a eternidade.
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